A Exposol 2025 foi palco, na manhã deste sábado, 03/05, de uma mesa redonda com o tema “Agronegócio: Momento e Desafios”, promovida pela Sicredi Botucaraí RS/MG com o objetivo de discutir alternativas diante do cenário crítico enfrentado pelo setor agrícola, especialmente no Rio Grande do Sul.
O encontro, realizado no Estande Agro do Sicredi, contou com a presença de autoridades e lideranças do agronegócio. Participaram o presidente da Sicredi Botucaraí RS/MG, Carlos Rogério Matuella, o presidente da Cotrijal, Nei César Manica, o senador Luis Carlos Heinze (por videoconferência), o prefeito de Soledade, Paulo Ricardo Cattaneo, o gestor da Aprosol, Orlando Sebastião Klein, e representantes de cooperativas, sindicatos, EMATER, produtores rurais e o setor técnico.
Durante a abertura do painel, Carlos Rogério Matuella destacou que a pauta foi escolhida pela sua relevância diante da realidade atual. “Estamos há cinco anos enfrentando estiagens consecutivas e agora tivemos uma enchente. Isso tem gerado impacto direto na economia regional, e não é apenas o setor agro que sofre. Quando o agro vai mal, todo o restante sente”, disse Matuella.
O presidente da Sicredi Botucaraí RS/MG defendeu a união de todos os segmentos da sociedade para buscar soluções. “Não é hora de nos dividirmos. Essa não é uma causa apenas dos agricultores. É do comércio, da indústria, do setor de serviços, dos prefeitos, vereadores, deputados e senadores. Estamos aqui para debater alternativas e propor caminhos viáveis, sem buscar culpados, mas sim responsabilidades compartilhadas”, afirmou.
Matuella também enfatizou que o Sicredi está junto ao produtor e vê com preocupação o atual modelo de crédito rural. “A cada ano o recurso fica mais escasso, e o sistema atual de equalização pelo governo federal já mostra sinais de esgotamento. Precisamos pensar em um novo modelo, mais eficiente e com fontes sustentáveis”, alertou.
Em sua participação por videoconferência, o senador Luis Carlos Heinze fez um diagnóstico do impacto das perdas no Estado. “Nos últimos seis anos, foram cinco estiagens e uma enchente. O prejuízo acumulado do agro no RS chega a R$ 140 bilhões, com reflexos na economia geral que ultrapassam R$ 400 bilhões”, disse. Segundo o senador, isso representa uma queda de até 13% no crescimento do Estado em relação à média nacional.
Heinze ressaltou a necessidade de prorrogação de dívidas e construção de uma nova política de securitização. “Estamos em tratativas com o Ministério da Fazenda, da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. Já há anúncio da prorrogação de parcelas de custeio e investimento. Mas é insuficiente. Precisamos de uma nova securitização com prazo estendido e juros compatíveis com a renda do produtor. Só assim evitaremos o colapso da atividade”, explicou.
O senador também defendeu medidas estruturantes, como programas de correção de solo e ampliação da irrigação. “Não podemos seguir com o modelo atual. É necessário investir em cobertura de solo e perfil radicular profundo. Para isso, estamos articulando com a Embrapa e com técnicos das cooperativas, da Emater e da iniciativa privada para desenvolver um grande mutirão técnico”, afirmou Heinze.
Nei César Manica, presidente da Cotrijal, reforçou que o atual momento exige enfrentamento coletivo e articulação política. “A agricultura gaúcha está no limite. O produtor investe, trabalha, mas está sem respaldo diante de tantos prejuízos acumulados. A política agrícola precisa ser repensada com urgência”, destacou.
Mânica também apontou que a questão da irrigação não pode mais esperar. “Já passou da hora de termos uma política de Estado, não apenas de governo, para fomentar e financiar a irrigação de forma acessível e ampla. Isso é questão de sobrevivência para o nosso setor”, pontuou.
O prefeito Paulo Cattaneo destacou a importância de ampliar o entendimento urbano sobre a crise no campo. “Essa luta não é só do setor primário. Quem mora na cidade também depende do agro. Sem ele, não há arrecadação, não há empregos, não há alimento na mesa. Precisamos mobilizar toda a sociedade”, disse.
Orlando Klein, gestor da Aprosol, reforçou que a Exposol é espaço legítimo para esse tipo de debate e colocou a entidade à disposição para articular a mobilização regional em torno das pautas estruturantes do setor. “Precisamos de um marco regulatório nacional para o agro, e a união de todos os setores é fundamental”, declarou.
Representando os produtores rurais, Éder Trindade trouxe um relato direto da realidade enfrentada no campo após mais um ano de frustração de safra. “Nós vivemos uma sequência de perdas. Cinco anos de estiagem e agora uma enchente. A gente não sabe mais para onde correr. O custo da produção aumentou, o preço caiu e o apoio demora. Precisamos de soluções que cheguem logo, porque quem está no campo está ficando sem força”, disse.
Vinícius Ottoni, presidente do Conselho Municipal da Agricultura, também participou do debate e reforçou a importância de união do setor. “Esse encontro mostra que não estamos sozinhos, mas precisamos transformar essa união em medidas concretas. A mobilização é necessária, mas o produtor precisa ver o resultado na ponta, na lavoura. O que está em jogo não é só o agro, é a economia de todo o estado”, afirmou.
Ao final do encontro, Carlos Rogério Matuella reforçou o papel da Exposol como espaço de discussão qualificada e construção coletiva. “Aqui não estamos buscando palco político. Estamos buscando soluções reais, construídas com base técnica e responsabilidade. A Exposol é uma feira multissetorial que valoriza o debate, e essa mesa redonda é um exemplo da importância de unir forças”, finalizou.