Um representante comercial de 33 anos morreu enquanto era submetido a uma sessão de tatuagem, após receber um anestésico no braço esquerdo, em Curitiba. David Luiz Porto Santos já estava sendo marcado há quase oito horas quando recebeu o medicamento. O caso veio a público após o depoimento da esposa da vítima, que foi ouvida pela polícia na última quarta-feira (8) e descreveu detalhes do caso. O homem morreu no dia 19 de abril de 2021 e somente nesta semana a polícia divulgou o conteúdo da investigação.
"O meu marido estava bem na finalização da tatuagem, até que o tatuador passou um anestésico nele, na hora que estava limpando o excesso. Ele passou no braço todo. O meu marido questionou o que tinha passado, ele respondeu que era um anestésico. Meu marido disse que a pressão dele estava baixando e o tatuador disse que era normal", contou a mulher.
Eu falei para o tatuador que ele (David) não estava bem. Eu coloquei a mão no peito do meu marido e vi que o coração estava acelerado. Pedi pra chamar o Samu. Deitaram o meu marido na maca, ergueram as pernas dele, a pupila dilatou e ele convulsionou. Chegou no hospital já sem vida.
O caso na época foi registrado na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas, como a autoria era conhecida e não havia indícios de crime, foi encaminhado ao 6º Distrito Policial (DP). A investigação apontou uma má conduta do tatuador. O tatuador disse que era de costume usar o anestésico e confessou que adquiriu o remédio com receita médica. Apuramos que a receita era de uma médica veterinária; ouvimos ela e a mesma relatou que não forneceu o receituário e que não tinha nada a ver com o caso. Mesmo assim nós vamos apurar a conduta dela nesse inquérito., disse o delegado Wallace de Brito.
"Estamos finalizando esse inquérito nos próximos dias, mas todos os indícios apontam que houve crime de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A pena para esse crime específico é de até três anos. Vamos finalizar e encaminhar ao Ministério Público do Paraná", disse Brito ao UOL.
Em nota enviada ao UOL, os advogados do tatuador disseram que o uso de spray de lidocaína é de uso comum entre os tatuadores, e que não houve nenhuma irregularidade. Eles disseram ainda que a vítima assinou um termo de responsabilidade antes de começar a tatuagem, em que declarou não ter nenhuma alergia.
"O ocorrido é trágico, entretanto, atribuir a causa morte ao tatuador José, sem que exista uma investigação completa, se demonstra uma decisão precoce, pois podem existir circunstâncias desconhecidas sobre o fato", disseram.
SUSPEITA DE OVERDOSE- O medicamento usado pelo tatuador é conhecido como lidocaína. A droga anestésica é usada para diminuir a sensação de dor em pacientes que passaram por procedimentos médicos. O laudo da necropsia no corpo de David não conseguiu apontar a causa da morte, descrita como "indeterminada".
"Diante dos dados colhidos durante o exame de necropsia e dos resultados dos exames complementares, conclui a legista que a morte de David é de causa indeterminada. Muito embora os achados necroscópicos e de exames sejam sugestivos de intoxicação exógena por lidocaína, o perito não tem como afirmar categoricamente que essa foi a causa do óbito, visto que não dispõe de exame quantitativo do anestésico em questão", diz o laudo, ao qual o UOL teve acesso.
De acordo com o Infectologista Daniel Junger, a vítima pode ter tido uma overdose do remédio, tendo em vista a rápida reação. "O que pode se entender dessa situação, é que o profissional passou uma grande quantidade de anestésico numa superfície onde havia sangue. A absorção dessa medicação foi muito maior do que se tivesse passado em pele íntegra", explicou o médico ao UOL.
O profissional ainda pontuou a importância de saber identificar os efeitos que os remédios podem causar nos pacientes. "Não dá pra gente usar a droga sem saber quais são os efeitos colaterais da medicação. Tantos os efeitos terapêuticos quanto os colaterais. É a responsabilidade que todo médico precisa ter na hora de prescrever a medicação. Por isso, não são todos os profissionais de saúde que podem prescrever. Apenas médicos e dentistas", finalizou Junger.
Fonte- https://noticias.uol.com.br



