News
Audiência pública discute crise do setor leiteiro gaúcho

Audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo,  ocorrida na tarde desta segunda-feira (24), discutiu a crise na cadeia produtiva do leite no estado do Rio Grande do Sul (RS). O deputado Zé Nunes (PT), presidente do Colegiado, foi o proponente e condutor do debate.

O deputado Zé Nunes afirmou acreditar que para debelar essa crise é necessário a articulação política, buscando espaços de diálogos com o Governo Federal, particularmente nos ministérios da Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além da bancada federal. "Precisamos construir um ambiente de pressão, já que o governo federal está com pouco dinheiro. Possivelmente não tenha para todo mundo, mas quem se articular mais pode receber mais recursos", justificou.

Outras indicações da audiência para aliviar a crise no setor foram compra de leite pela Conab, estimulo aos estados do sul do país para compra do excedente de leite gaúcho, o uo dos recursos do Fundoleite e rigor e fiscalização na importação de leite em pó

Debates
No início da audiência, o deputado Zé Nunes falou sobre a perda do número de produtores rurais na atividade. Segundo ele, em dez anos, dois terços dos produtores de leite gaúchos abandonaram o negócio. "Com isso tivemos uma concentração excessiva da produção, o que levou à queda de produtividade. "Hoje temos um milhão de litros de leite a menos do que em 2015, numa indústria que tem a capacidade de 19 milhões de leite por dia", discorreu. Para ele, há uma crise conjuntural em todo o país, com uma estagnação de consumo e aumento da produção.

O coordenador do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do RS (Conseleite) e secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, expôs as dificuldades por que passa o setor e apresentou as medidas pleiteadas pela indústria gaúcha de leite. Entre as solicitações estão a  compra pelo governo federal de 100 mil toneladas de leite em pó para programas sociais e escolas, e também a revisão das licenças de importação, tanto de leite em pó quanto de queijo.

Eugênio Zanetti, da Fetraf, considera que a cadeia produtiva dos laticínios é muito desorganizada, se comparada com outras cadeias produtivas como a do frango, suíno, que são mais competitivas e encontraram novos mercados. "Precisamos olhar com muito cuidado um setor que no RS é composto por 96% da agricultura familiar e vai atingir questões sociais e as economias dos municípios. Conforme ele, há questões fundamentais a serem combatidas. Entre elas o acordo Mercosul e União Europeia e o próprio acordo com os países do Prata. "O que eles têm a nos oferecer é o vinho, o arroz, e, especialmente, o leite, prejudicando setores importantes para o RS", argumentou.

O presidente da Coceargs, Adelar Preto, avaliou que neste ano o preço pago ao produtor é um dos menores em muitos anos. "A expectativa é que só em março do ano que vem possa ter uma movimentação de pequena alta nos preços", analisou. Ele entregou ao presidente Zé Nunes cópia de um documento conjunto das cooperativas de produtores de leite e outras entidades que será entregue ao vice-presidente Geraldo Alckmin.

O vice-presidente da Fiergs, Alexandre Guerra, sugeriu a adoção de políticas a longo prazo, propondo a criação de um mecanismo que possa dar uma equalização do setor, quando os preços fogem da realidade. Alexandre Guerra também propôs a compra governamental do produto.

O representante da Ocergs, Tarcísio Minetto, disse ter temor que no verão a situação possa se agravar com a diminuição do consumo. Ele repetiu que a salvaguarda para o momento de crise é a urgência da compra governamental. Minetto salientou que é importante, a longo prazo, a reestruturação do setor.

O Superintendente do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), José Cleber de Souza, considera que a situação é aguda e exige uma intervenção. "Mas acima de tudo precisamos de um conjunto coordenado de ações. Se não fizermos isso, continuaremos a ter crises contínuas e estruturais", reforçou. Souza pregou que sem discussões  envolvendo todos os entes governamentais e entidades para resolver os problemas estruturais advindo de anos, o setor estará sempre tropeçando na mesma pedra.

O secretário de agricultura familiar e agroecologia do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Vanderley Zíger, avaliou que no cenário atual o volume de oferta é maior do que o consumo interno, além da importação do leite em pó dos países do Mercosul. "O que tem nos atrapalhado na competição interna", acrescentou. Ele salientou que o Governo Federal está comprometido com a pauta, com ações em vários ministérios.

Deputados
O deputado Adão Pretto Filho (PT) reafirmou seu compromisso com o setor que na sua maioria são produtores da agricultura familiar. "Nos últimos anos, foram mais de 50 mil famílias que abandonaram a atividade leiteira por vários fatores", lamentou. Para ele, é preciso achar alternativas para que os governos possam estender a sua mão neste momento de crise. Pretto Filho informou que mantém tratativas com o governo federal para que sejam encontradas alternativas para minimizar os problemas do setor, talvez com compra de leite pela União. Conforme o deputado, também é preciso pensar em médio e longo prazo com uma política permanente para o setor leiteiro.

O deputado Gerson Burmann (PDT) disse que a compra de leite pelo Governo do Estado, em maiores volumes, pode ser uma saída emergencial para a pecuária leiteira. "Outro fator primordial neste momento é a necessidade de interferência da Conab e a suspensão das importações de leite.

Também se manifestaram a oordenadora da Secretaria de Mulheres da Fetraf-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul, Cleonice Back; o representante da Farsul, Allan André Tormen; o president da Languiru, Paulo Roberto Birck; o presidente da Unicafes, Gervásio Plusinsk, o representante da Famurgs, Mário Nascimento; o superintendente da Conab/RS, Glauto Melo Júnior; o representante da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Jonas Wesz e o superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário no RS, Milton Bernardes.

Por- Vicente Romano - MTE 4.392

Foto- Agência de Notícias da Assembleia Legislativa RS



Galeria de Imagens
Destaques